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Anna Behatriz Azevedo

 

Entredentes.

2010.

Vídeo.

3’25”.

Nasceu em Goiânia/GO (1986). Vive e trabalha nesta cidade. Formação: Artes Visuais pela Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (UFG). Foi professora substituta nesta mesma instituição e professora formadora na FAV/EAD. Sua produção transita por performance, vídeoarte, vídeocenário, desenho e dança. Recebeu Prêmio Aquisição do 1° Salão de Arte do Centro Oeste, Centro Cultural UFG, Goiânia/GO. Realizou as seguintes exposições individuais: Quarto de um sonho – instantes de um suicida, Museu de Arte Contemporânea de Goiás, Goiânia/GO (2014). Intermitência, Galeria Potrich (2010); Galeria do Sesc de Palmas/To (2012); Galeria de Arte Sesc MA (2013). Integrou de 2005 a 2010 o Nômades Grupo de Dança. Apresentou performances entre os anos de 2006 a 2015 na galeria Frei Confaloni Goiânia/Go, II Convergência (Encontro de Performance) em Palmas/To, ROÇAdeira: Performático em Lugares Improváveis, Atelier Labiríntimos; a convite do Grupo Empreza performou no espaço escritório na exposição Terra Comunal, Sesc Pompéia e espaços públicos no centro de São Paulo. Entre os anos de 2005 a 2013 expôs  obras em vídeoarte, vídeoinstalações e vídeoperformances na Galeria da FAV/UFG, Goiânia/GO; Galeria Frei Confaloni, Goiânia/GO; Atelier Labiríntimos, Goiânia/GO; Galeria Potrich, Goiânia/GO; Cine Ouro, Goiânia/GO;  Mostra de videoarte Desviantes (1° e 2° edições), Goiânia/GO; Muna, Uberlândia/MG; MAC de Jataí, Jataí/GO); Museu de Arte Contemporânea de Goiás, Goiânia/GO.

ANNA BEHATRIZ – SOBRE AS ANGÚSTIAS DA VIDA HUMANA

 

A produção hermética, densa e grave, de Anna Behatriz transita por vídeo, videoinstalação, performance e dança,  carregada de afetividade, atrelada ao corpo e profundamente comprometida com o indizível dos enigmas que regem a existência humana. São acentuados seus questionamentos sobre a materialidade e os significados do corpo, investigado pelos seus  resíduos e pilosidades,  pela vitalidade do organismo manifesta na pulsação do sistema de manutenção da vida, pelos objetos que foram pensados e feitos para manterem algum tipo de relação com ele.

Em sua videoinstalações Anna Behatriz gera um sistema intrincado de elementos criando um ambiente repleto de estranhamento, no qual o espectador é convidado a imergir e a se relacionar com imagens que lhe causam certa angústia e desconcerto. Atordoado pelo impacto, o espectador se defronta com a sua dificuldade de expressar determinados pensamentos e sentimentos provocados pela visão simultânea das imagens instigantes oferecidas pela artista.

Nesta exposição Anna Behatriz exibe uma única obra, a videoinstalação intitulada Da Série: Quarto de um sonho – Instantes de um suicida, constituída por três vídeos projetados sobre paredes pintadas de preto, superfícies enlutadas  que dificultam a apreensão das imagens. Na sala, em meio aos vídeos, está posicionado um diminuto e estranho objeto, composto por uma pilha de trinta colheres de sopa, tendo no bojo a peça de ímã e na extremidade do cabo uma estranha trouxinha confeccionada com fios de cabelos atravessada por uma agulha. Sua intenção é criar um ambiente onírico carregado pela angústia de um suicida prestes a se matar. As colheres, o ímã e a agulha são objetos banais do cotidiano que metaforizam a situação trágica, aparecendo em diferentes situações nos vídeos. A colher serve ao corpo; o imã atrai e repele os polos da existência: vida e morte; o cabelo é parte e vestígio do corpo; a agulha perfura pele e carne, alinhava sentidos e costura uma imagem à outra. A artista evoca a vida onírica, onde tais elementos do cotidiano perdem suas funcionalidades e são manipulados pela incontrolável  pulsão inconsciente,  que superpõe realidade e ilusão sem hierarquia ou distinção entre um e outro, e onde recalques, traumas e dores, tanto individuais quanto coletivas, adquirem fantasmática presença. 

O vídeo com maior duração tem também a maior escala de projeção e está posicionado no centro da parede; nele vê-se apenas o bojo de uma colher contendo um dente em chamas, até que ela se apague; o fogo aparece como elemento capaz de mediar o sagrado e o humano, de iluminar o lado obscuro e imaterial da vida humana, fonte de energia que se esgota e falece; e como afirmação finitude da presença física do corpo, o dente extraído de uma boca arde sobre uma colher, objeto que traz à boca o alimento que sustenta o corpo.  O dente corresponderia à caveira à qual Hamlet faz suas indagações sobre a morte. Outro vídeo está projetado perpendicularmente sobre o encontro de duas paredes e sua duração cria um ritmo intervalar; na cena, um amontoado de colheres é colocado sobre o corpo de uma mulher nua deitada, com uma colher enfiada na boca e um dente enfiado em uma das narinas (o mesmo que ardia em chamas no vídeo anterior); a luz barroca e quente junto ao movimento lento da câmera modulam os brilhos, reflexos e sombras sobre a imagem de um corpo prestes a ser consumido. E mais um vídeo, com menor duração, é projetado sobre uma parte do teto e de duas paredes; iluminada apenas por um foco de luz lateral, a cena registra uma mão feminina manipulando duas peças de imã com uma agulha de costura à mão, desenvolvendo curta e estranha relação com esses objetos; este vídeo  traz ao ambiente a sonoridade produzida pela manipulação desordenada das colheres, gerando ora atritos ora afinações  com as três imagens vistas simultaneamente.

 

Divino Sobral

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